Um pequeno Distrito e seu ‘Digital Influencer’
Quem-Quem.
É esse nome engraçado que vai abrigar a nossa terceira parada da jornada emocionante que fizemos por parques solares fotovoltaicos pelo norte de Minas Gerais.
Quem-quem é distrito do município de Janaúba, nome também dado ao arbusto muito presente no local, o Himatanthus drasticus.
Mas de drástica, essa cidade não tem nada.
É um município de pouco mais de setenta e dois mil habitantes, segundo o último levantamento do IBGE. Fica pertinho do sudoeste da Bahia e, principalmente Quem-Quem, recebe muita gente do estado vizinho.
A prova disso está num dos personagens mais interessantes de lá.
Eu e minha equipe, estávamos na praça preparando o equipamento de gravação, quando avistamos um senhor de bicicleta e chapéu de palha, gravando um áudio no celular
Quando terminou, me aproximei e perguntei o que ele estava fazendo.
Seu Orlando contou que chegou à Janaúba na década de 1970 com a família e decidiram ir para Montes Claros. Gostaram de Quem-Quem, que naquela época era uma pequena localidade de poucas ruas e casas. E ficaram.
Mas o que ele estava “reportando” no smartphone?
Seu Orlando estava chateado porque no dia anterior havia ocorrido uma feirinha com comidas e artesanato na praça, muito animada e que reuniu muita gente, mas que resultou em muito lixo. E no dia seguinte toda a sujeira estava lá espalhada.
E ele dizia:
“Eu queria saber de quem era a responsabilidade pela limpeza do lugar”
E pra onde ele ia mandar esse áudio?
“Para o meu canal do Youtube e para meus grupos de WhatsApp.”
Por pura sorte de repórter, eu havia encontrado um influencer de Quem-quem, um senhor de quase setenta anos, ligado na tecnologia e nas responsabilidades cívicas dos moradores e dos órgãos públicos.
Eu amei tanto essa história que resolvi esticar o papo. Então, perguntei o que seu Orlando achava da chegada do parque solar Janaúba, que fica em Quem-Quem.
Ele não titubeou em dizer que foi um avanço só.
“Antes havia de oitenta a cem pessoas com carteira assinada e agora passa de duas mil pessoas.”
Ele apontou para a praça de esportes de Quem-Quem, construída pela Elera, proprietária do Parque Janaúba.
Quem-Quem NÃO É MAIS A MESMA
O mercadinho que começou com 54 metros quadrados e hoje já chega a quase dez vezes esse tamanho.
Foi isso que aconteceu com o negócio do Júlio César.
Quando começaram as obras do Parque Solar, ele viu chegarem ônibus, carretas, 250 veículos passando
pelas pequenas ruas por dia.
Disse que até a estrada melhorou, que antes era uma buraqueira sem fim.
Num distrito de 5 mil habitantes, espalhados na zona rural, desembarcaram 5 mil trabalhadores de todo o Brasil, ávidos por ter um lugar onde pudessem fazer suas compras e até tomar aquele café com pão quentinho feito na hora.
Tanto que o Júlio, um empreendedor muito esperto, montou uma padaria.
Dona Li é outra pessoa que viu a vida da família mudar. Ela sempre trabalhou muito. Começou vendendo lanches e fazendo quentinhas, entregando de porta em porta.
Quando o marido arrumou um emprego na obra, como lavador de painéis solares, ele carregava todo dia, pro almoço, a quentinha que Dona Li fazia especialmente pra ele.
Os colegas começaram a sentir aquele cheirinho bom, pediram pra experimentar e de repente, dona Li estava fazendo 200 quentinhas por dia para os trabalhadores da usina.
Foi dando tão certo, que de marmiteira ela virou dona de restaurante.
Comprou a casa que alugava, hoje abre diariamente para os moradores de Quem-Quem e para os funcionários da usina já pronta.
E está até fazendo reformas para montar sua própria pousada com restaurante.
PARQUE SOLAR Janaúba
O Complexo Janaúba é formado por 20 parques solares e ocupa uma área de 3 mil hectares. São mais de dois milhões de módulos fotovoltaicos e capacidade instalada de 1,2 Gigawatts.
É o suficiente para abastecer quase dois milhões de casas.
Aqui é usada uma tecnologia diferente dos outros parques que visitamos na nossa jornada Do Ouro ao Sol
Os painéis solares produzem energia dos dois lados.
A Nextracker projetou os rastreadores solares de modo que maximizem a energia dos módulos bifaciais, aproveitando ao máximo a luz que incide na parte de trás do painel, refledida a partir do solo, obtendo mais energia.
E aqui eu aprendi uma nova palavra um tanto difícil: albedo, que é justamente a medida de quanto uma superfície é reflexiva.
Essa medida é bastante utilizada em meteorologia, nos estudos sobre radiação solar e terrestre, e em um parque solar, representa a quantidade de radiação refletida do solo à parte traseira do painel.
De acordo com o portal Meteorópole, o albedo é um valor que vai de 0 a 1, onde 0 corresponde a uma superfície que não reflete nada, apenas absorve a radiação solar, como uma camada de asfalto, por exemplo.
Já áreas completamente cobertas por neve possuem o albedo próximo a 1 e esse valor significa que quase 100% da radiação solar incidente foi refletida.
Além disso, o fato do painel se mover acompanhando o movimento do sol aumenta a geração de energia em até 35%, segundo a Juliana Santos, Diretora de Gestão de Ativos da Nextracker.
MULHERES EM CAMPO
Juliana é outro caso à parte.
Uma mulher jovem, animada e ligada no 220, que sabe tudo sobre a tecnologia utilizada no Parque Janaúba.
Eu olhava pra ela, toda coberta com roupas compridas, chapéu, óculos, bataclava para se proteger do sol, num calor que chega a mais de 40 graus quase no anoitecer e pensava: como uma mulher lida com estas condições?
E quando eu perguntei pra ela qual é o maior desafio de estar em campo nessas condições, ela respondeu que no fundo esse era o maior orgulho e não desafio.
Juliana foi responsável por ajudar na capacitação de outras mulheres e que hoje também trabalham em campo, desde a instalação dos equipamentos até à manutenção.
“Embora a gente tenha mais de seis toneladas em um tracker, as peças são pequenas, são conjuntos de peças, por isso é possível ter homens e mulheres trabalhando juntos, sem sobrecarregar ninguém.”
Pra isso acontecer, entra outra mulher determinada e destemida nessa história.
A diretora da única escola infantil de Quem-Quem percebeu que para que novas mulheres pudessem trabalhar na usina elas precisariam ser treinadas.
E decidiu abrir as portas do conhecimento também para os adultos.
Cedeu as salas de aula na parte da noite para que os interessados – homens e mulheres – fossem capacitados.
Dona Cleides vem de uma vida dura, se esforçando sempre para educar os filhos e fazer da escola um lugar onde destinos são modificados.
A escola é um brinco. Limpa, colorida, arejada, dá vontade de passar horas ali.
Me tocou o quanto esse capricho da dona Cleides faz a diferença dado o ambiente desafiador em que as crianças são criadas em Quem-Quem.
Uma das professoras dos pequenos é filha da dona Cleides, a Ramony.
A professora que pôs em uso o seu diploma de engenharia
Ela foi uma das estudantes do curso ministrado pelo Senai e pela Nextracker na escola.
Ramony é engenheira de formação. Mas como não havia emprego pra ela na área, virou professora de matemática pro ensino fundamental e de física pro ensino médio.
Trabalhava de manhã e voltava à noite para fazer o curso de capacitação.
Devido à longa distância entre as cidades, da qual ela morava e o local do curso, e como não havia transporte público neste trajeto, Ramony dependia de carona pra voltar pra casa.
Antes mesmo do curso terminar, Ramony foi contratada pela Nextracker como técnica de engenharia. Pouco tempo depois já foi promovida à engenheira júnior.
O SOL, AGORA É UM PRESENTE
“O sol aqui é muito intenso, o período chuvoso é muito curto e é muito sol o ano inteiro. Então, a gente sempre viu o sol como o inimigo. Por castigar, por não chover, por depender muito da agricultura e da agropecuária E hoje a gente vê o sol como nosso melhor amigo, nosso maior aliado. O sol é que está provendo tantas riquezas pra gente, tantos empregos. “
Por que o nome Quem-Quem?
Ah, e uma informação já ia ficando de fora.
A explicação nos foi dada por uma moradora.
Quem-Quem é o nome de uma ave, também conhecida como gralha-cancã, cancã ou cancão. Segundo a lenda, havia muito quem-quem naquela região, que dizem ser muito barulhento.
Descobre qualquer coisa estranha na mata e avisa a todos.
E por isso é considerado a voz da caatinga.
A vida de repórter tem dessas coisas: boas surpresas, como encontrar histórias emocionantes e muitas vezes um gostinho amargo por não ter a sorte de experimentar o que dá mais brilho à nossa jornada.
Porque viver num lugar chamado Quem-Quem é uma preciosidade, não acha?
Agradecemos aos nossos parceiros e clientes
#DoOuroAoSol
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Construindo um Futuro Sustentável.