A cidade: Várzea da Palma
Terminamos nosso trabalho em Pirapora e seguimos para nossa segunda parada: o município de Várzea da Palma. Várzea também pertence ao Alto São Francisco e nela termina o Rio das Velhas, um dos afluentes mais importantes do Velho Chico.
De acordo com o recém lançado censo do IBGE, tem pouco mais de trinta e três mil habitantes. E é famosa pelo Forró da Palma, uma das festas mais tradicionais do mês de julho no estado de Minas Gerais, que chega a movimentar seis milhões de reais em negócios e reunir até cem mil pessoas. Pena que nossa visita ocorreu em março.
O nome Várzea da Palma surgiu por causa das planícies, das vargens e palmeiras nativas que havia no local.
Várzea tem como fonte de renda a agropecuária, metalúrgicas, comércios e indústrias.
E foi aqui que revisitei minhas origens mineiras da melhor forma possível: comendo a comida tradicional do meu estado, preparada por uma especialista no assunto, a dona Adéria Lopes.
O restaurante Panela de Ferro é comandado por ela e também emprega boa parte da família.
Dona Adéria saiu de Várzea aos vinte anos, para acompanhar o marido, mas depois de trinta anos pela estrada, voltou à cidade e resolveu montar um restaurante.
O Panela de Ferro era pequeno até pouco tempo. Ela conta que cresceu com a chegada do parque solar Hélio Valgas, que fica no município.
Enquanto estávamos trabalhando por perto, fomos almoçar todos os dias lá.
E percebemos que estava sempre cheio e com muitos trabalhadores com uniforme da Comerc, a empresa responsável pela implantação e operação da usina Hélio Valgas.
Dona Adéria é muito simpática e quando perguntei pra ela por que os funcionários da usina iam lá, mesmo tendo alimentação fornecida no refeitório próprio do parque, ela ficou toda sem graça e disse “acho que eles gostam do meu tempero, né?”
Complexo Solar Hélio Valgas
Comissionada em julho deste de 2023. A usina ocupa mil cento e quarenta e dois hectares, o equivalente a mais de mil e quinhentos campos de futebol.
Diferente do Parque Pirapora, a energia gerada aqui vai para as indústrias. A maior parte, para uma fabricante de silício metalúrgico. Tem um milhão duzentos e dezoito mil módulos fotovoltaicos, com potência instalada de 661 MW.
Foi nesta usina, observando as estruturas ainda em montagem, que eu entendi de verdade como funciona a tecnologia da Nextracker.
O Leonardo Madureira, supervisor de campo há cinco anos, explicou que o tracker é composto por toda a estrutura metálica que apoia os painéis e o motor que permite o giro, de acordo com o movimento solar.
Com base num software, o tracker capta o horário do nascer e do pôr do sol e essa “inteligência” é transmitida para as engrenagens do sistema mecânico.
Dentro de uma pequena caixinha está o segredo para fazer girar os noventa módulos de até 40 quilos cada.
O Claudio Pereira, que é gerente de operação e manutenção da Comerc, explicou que a usina entrega energia renovável, limpa e sustentável principalmente para indústrias.
E que essa é uma forma de colocar o setor industrial na tão almejada transição energética do país.
Diversidade, Inclusão e Desenvolvimento da Força de Trabalho
E a história de vida das pessoas que encontrei em Hélio Valgas me comoveu.
Começando pela Any Luiza Lopes.
Ela fez alguns anos de faculdade em Montes Claros, mas parou na época da pandemia.
Quando o parque solar começou a ser construído, ela trabalhava na funerária no centro de Várzea da Palma, mas queria mesmo era o setor de RH de alguma grande empresa.
Cadastrou-se no site do consórcio que se formou em Hélio Valgas e andava com o currículo embaixo do braço, pra cima e pra baixo.
Até que conseguiu um teste e passou.
Quando conversamos, ela já tinha um ano e quatro meses de contrato. Palavras da Any: “é um sonho para a gente da cidade interiorana ter uma oportunidade de trabalhar em uma multinacional. Principalmente sendo mulher. Porque não é fácil arrumar emprego na região. As chances femininas são poucas, principalmente na área administrativa.”
Tem também o Matheus Santos.
Da esquerda para a direita: Matheus Santos, Leonardo Madureira e Luiz Otávio na construção de Héio Valgas
Um rapaz de 23 anos, nascido em Jacareí, São Paulo, que se mudou para Várzea assim que passou num processo de seleção da Nextracker para trabalhar na usina. Matheus contou que se surpreende a cada dia com os líderes que ele encontra no trabalho. E que essa convivência tem feito ele melhorar como profissional e como pessoa.
Até dicas de como se comportar ele recebeu. Além de aprender a controlar certas emoções. Matheus tem noção do privilégio de, com essa idade, estar contratado numa empresa que gera sustentabilidade para o nosso planeta. E por isso, quer dividir tudo o que vem aprendendo com os novos colegas que estão chegando.
A persistência compensa para talentos diversos
Imagine passar seis anos em uma cidade procurando por um emprego formal e não ter sucesso. Bom, muitos brasileiros estão enfrentando essa situação hoje. Mas no caso do Fredson Silva, de 40 anos, havia uma desconfiança de que não se tratava apenas de crise econômica.
Quando ele foi morar com a mãe em Várzea da Palma via muita gente conseguindo um trabalho. E as portas continuavam fechadas para ele.
Até que veio a mudança.
Foi selecionado para uma vaga no canteiro de obras do consórcio formado em Hélio Valgas. Perguntei para o Fred por que ele achava que demorou tanto para ser integrado à uma empresa na região. E ele respondeu: preconceito.
Fredson faz parte da comunidade LGBTQIA+ e pela primeira vez estava recebendo uma chance de mostrar que era capaz, como qualquer outro trabalhador.
Começou em Hélio Valgas como ajudante de obra e hoje é líder de equipe, carregou material pesado de um lado para outro e agora lidera uma equipe de 17 trabalhadores de turmas femininas e masculinas. Ele também começou a dar treinamento para estas pessoas, o que foi muito gratificante.
Fredson descobriu que mesmo sendo homossexual ele tinha o direito de fazer parte da sociedade. E me falou: “pela primeira vez, sinto que pertenço a esse mundo.”
O projeto Do Ouro ao Sol reforçou uma ideia que eu já tinha.
Não há trajetória de sucesso num empreendimento empresarial, seja ele do porte que for, sem a riqueza humana.
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